Crianças brincando fora de casa, vizinhos conversando na calçada, uma escola municipal com pintura em dia e brinquedos novos. Todos esses elementos parecem retirados do roteiro de algum filme ou novela que se passa no interior. Mas trata-se do cotidiano dos moradores da Rua da Liberdade, localizada no Jardim Santa Rita, zona leste de Maringá. Vindos de diversas partes da cidade, os moradores da rua foram atraídos pela tranquilidade oferecida pelo local.
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Rua da Liberdade: refúgio para quem quer uma vida tranquila (Foto: Thiago Bulhões)
Toda essa região atraía pessoas pobres, pois estava próxima ao lixão”
Apesar de hoje ser uma região pacata e com pouco movimento, a Rua da Liberdade, como todo o Jardim Santa Rita, nem sempre foi assim. Segundo o historiador João Laércio Lopes Leal, gerente do Patrimônio Histórico de Maringá, o local foi ocupado por favelas até os anos 1980. “Toda essa região atraía pessoas pobres, pois estava próxima ao lixão.” Leal lembra que foi a partir da primeira gestão do prefeito Said Ferreira, em 1983, que a região passou a melhorar: “com o Profilurb [Programa de Financiamento de Lotes Urbanos], os antigos moradores foram deixando o local para ocuparem novos espaços”.
Posso sentar com meus pais na calçada e conversar até a hora da novela”
A auxiliar administrativa Marta Maria da Silva, 45, que mora na rua há 10 anos, é só elogios ao local. “Aqui é bem tranquilo. Posso sentar com meus pais na calçada e conversar até a hora da novela.” Marta, que é moradora de Maringá há 20 anos, conta que o Jardim Santa Rita é o melhor lugar que já morou dentro da cidade. “Eu posso trabalhar sossegada, pois meus pais ficam em segurança. Não tenho porque querer sair daqui.”
Antigamente, a gente ouvia cada coisa daqui que dava medo.”
De opinião semelhante à de Marta é a aposentada Lúcia Moscato Pinto de Oliveira, 63. Ex-moradora do centro de Maringá, a aposentada relembra a péssima fama do bairro anos atrás. “Antigamente, a gente ouvia cada coisa daqui que dava medo. Hoje não é mais assim.” Lúcia mora em uma casa da rua há 13 anos e só se lembra de duas ocorrências policiais registradas ali. “Logo que me mudei roubaram a bicicleta do meu filho. Agora, levaram o carro do rapaz dali [aponta para uma casa à frente]. Mas foi só.”
Com certeza, é uma nova tendência de migração.
O geógrafo Álvaro Moacir Cazula, especialista em geografia socioambiental, compara essa fuga das pessoas dos centros para a periferia ao processo de interiorização, em que as pessoas saíam dos grandes centros em busca da calmaria do interior. “Esse processo exige pesquisa mais profunda. Mas, com certeza, é uma nova tendência de migração, em que as pessoas saem do centro em busca de mais qualidade de vida.”