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Thiago Bulhões (Foto: Priscila Dias)
Quando Deus criou o mundo, Ele próprio tinha consciência de que aquela criação teria um fim. E, naquele momento, estava criado o fim. O problema é que Deus não criou, junto com o fim, uma bula que ensinasse qual era a melhor forma de lidar com o término. Talvez porque Deus estava querendo mais é descansar…
Zica era um menino que achava que sabia escrever. Diziam os amadores que ele escrevia bem. “Os amadores não sabem de nada”, pensava Zica, no dia que descobriu que não escrevia bem. Pelo menos ler ele sabia, o que não o deixava cair na classe dos analfabetos.
Redações à parte, Zica era guiado por luzes. Especialmente no momento que vivia, tinha quatro luzes de estimação. Gostava tanto dessas luzes que até deu nome a elas: Bela, Boneco, Bochecha e Boladona.
As luzes tinham vida própria: Bela era linda, alta, esbelta, diva. Bela dava lições importante ao pobre Zica. Ensinava como comer, como vestir, como falar. E como amar, como rir, como ser feliz. Boneco era uma luz instável: sua luz era impecável, mas seu brilho oscilava… Alguns dias, era próximo como o quê, outros dias, tinha uma presença tão mínima que pouca se via. Apenas sentia-se a falta. Bochecha era uma luz grande, mas desprotegida de tudo. Ao contrário das outras luzes, era Zica quem tinha que cuidar daquela luz, para que ela não se acabasse de vez. E Boladona…. Ah, como Boladona era incrível! Tinha uma luz doída, que queimava em Zica. Mas que o fazia tão bem, que era um bem inimaginável.
Mas como tudo tem um fim, um dia o difícil Zica se viu perdendo suas luzes amadas. Não era uma perda, mas um afastamento que Deus, o sujeito criador de fins, estabelecia. Zica teria que se acostumar em ver as luzes, tão queridas, brilhando de longe. Assim como a ilusão de sua escrita, que fora embora há pouco, iam-se agora as luzes. Brilhando sozinhas, mas ainda refletindo nos olhos de Zica. E dando a certeza de que vão, eternamente, brilhar nos olhos e no coração de quem permitir.
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Eles brilhariam para sempre, estando longe ou perto de Zica (Montagem: Cláudia Letícia)
