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A cantora Gretchen, durante coletiva no dia 30 de abril (Foto: Priscila Dias)
A cantora se apresentou em Maringá no último dia 30 de abril, na boate “Boom Box”, e concedeu entrevista coletiva antes do show. Com 37 minutos de atraso, a “rainha do rebolado” veio até os repórteres vestindo camiseta branca e calça preta. Estaria completamente básica, não fosse a pantufa coral com penas que calçava, e o colar dourado no pescoço com o nome artístico. Excessivamente simpática, Gretchen falou sobre o futuro da carreira, possíveis substitutas, relação com a imprensa, e claro, os inúmeros casamentos.
[TV Tibagi] Gretchen, você se considera a precursora das mulheres fruta?
Thiago BulhõesNo livro “Babado Forte – Moda, Música e Noite” (Mandarim, 1999), a antenadíssima jornalista e autora da publicação, Érika Palomino, conta sobre a vez que, em 1995, participou de uma entrevista coletiva com a superlativa Madonna. Érika, uma então jornalista de carreira ascendente, sentiu o nervoso de encarar uma personalidade do nicho pop, terreno minado por egos super inflados e nervos à flor da pele. Como se não bastasse toda a responsabilidade, Érika ainda era fã de Madonna, que vivia o estresse de mais um lançamento mundial (o CD “Bedtime Stories”). Proporções diminuídas, recentemente eu, estudante de jornalismo sem experiência nenhuma, me vi numa situação quase idêntica. Autoescalei-me para uma coletiva com Gretchen, antigo nome do pop brasileiro, que também se prepara para um novo lançamento. |
Talvez seja pretensioso comparar minha experiência à de Érika Palomino, e mais pretensioso ainda comparar Gretchen à Madonna. Mas ambas têm pontos em comum: já se meteram, cada uma à sua maneira, com religião, sexo, relacionamentos conturbados. Meteram-se também em coreografias sensuais e em palcos cheios de efeitos especiais. Foram sucesso, fizeram escola para menininhas que as imitam até hoje, venderam milhares de discos, têm corpos esculturais apesar da idade, enfim: são autênticas. |
O único ponto em que as cantoras não se assemelham é o da capacidade de reinvenção: Madonna fez de cada lançamento fonográfico o início de uma nova era, lembrada por alguma particularidade inclusa nas músicas, ou no comportamento da cantora. Não raro, ouvem-se os fãs chamando os discos já lançados de “era ‘Ray of Light’”, “era ‘Music’”, “era ‘Confessions’” etc. Gretchen, pobrezinha, esqueceu-se que sabia cantar e dançar e deixou a tempestuosa vida pessoal tomar conta de tudo, ofuscando a música e o rebolado. Hoje, tenta fervorosamente reinventar a carreira (e está tendo algum sucesso, é verdade: o vídeo de “I’m Cool”, parceria com a banda 1E99, tem causado barulho na internet), mas ainda se vale muito do passado popular nos anos 1980. |
Foi essa Gretchen que encontrei na coletiva: uma mulher que transbordava simpatia e felicidade tão grandes, que beiravam o artificial. Uma mulher que lembrava a todos nós, jornalistas, o quanto ainda era querida pelo povão brasileiro. Uma mulher que se reafirmava a cada resposta como um ícone da cultura nacional. Uma mulher que mostrava que ainda é capaz de repetir o estrondoso sucesso de décadas atrás. |
O pop costuma ser ingrato e derruba aqueles que o fazem (vide os finados Michael Jackson e Whitney Houston). Madonna está aí, de CD novo, e faturando milhões. Parece ser a exceção que confirma a triste regra do mundo pop. Só tenho a desejar sinceros votos de sorte a Gretchen: vai que ela pega o pop em um bom dia e consegue uma volta triunfal. E tenho de dar a mão à palmatória: ela é um ícone, sim. Do pop ou do trash, não sei. Mas um ícone, e isso já é suficiente para Gretchen e para mais um monte de gente. |
Das mulheres fruta não, mas sim do movimento “bunda music”, que é como chamam o movimento de rebolado, o movimento de cantar e dançar. Sou precursora disso.
[JMP] Para quando os fãs podem esperar um novo trabalho, de músicas inéditas?
Brevíssimo! Gravei sexta-feira passada [27 de abril], no Rio de Janeiro, com a banda 1E99. Músicas todas no estilo dessa nova que vocês devem ter visto o clipe, “I’m Cool”. Tem regravação da Madonna, da Britney Spears e das músicas “Freak Le Boom Boom”, “Conga La Conga” e “Piripipi” [Melô do Piripiri] nesse estilo moderno.
Não gosto de cinema, não gosto de ser atriz, não gosto de decorar texto. Meu negócio é cantar e dançar. É o que gosto e é o que me faz feliz.
[JMP] Você pode nos adiantar o nome do CD?
Ainda não, porque nem eu sei. Terminamos na sexta [27 de abril] de gravar o CD e os clipes para as músicas “Plastic Love” e “So Let Body Rock”.
[TV Tibagi] O que aconteceu recentemente, nos Estados Unidos, quando toda a imprensa divulgou que você trabalhava como garçonete?
Eu fiz um comercial, mas se fosse [garçonete] não teria vergonha, de jeito nenhum! Eu acho que tem que se trabalhar de qualquer coisa, independente do que seja. Sustentar os filhos, ter uma vida normal… Nos Estados Unidos isso é extremamente comum.
[JMP] Você fica magoada com os veículos de comunicação que insistem muito em falar sobre os seus casamentos?
Magoada não. Eu já até cansei de responder sobre isso, pois acho que chegou num ponto que saturou, não é mais assunto para nada. Até porque nunca falam a verdade. A única pessoa que realmente tratou desse assunto com seriedade foi a [jornalista] Marília Gabriela, no [programa] “De Frente com Gabi”. Hoje em dia todo mundo fica, todo mundo beija hoje, beija amanhã, fica dois dias, fica um mês… E eu tive 16 relacionamentos em 52 anos, quer dizer: é muito pouco pra quem tem tanta idade como eu.
Já falei sobre isso. São aqueles filmes [pornôs, lançados entre os anos 2006 e 2008]. Não posso me arrepender porque é uma coisa que fiz para ajudar no sustento dos meus filhos. Foi vantajoso, mas não faria de novo.
[JMP] Dentro dessa reinvenção da sua carreira, você tem algum plano de atuar mesmo, em um filme mais sério?
Não [enfática]. Não gosto de cinema, não gosto de ser atriz, não gosto de decorar texto. Meu negócio é cantar e dançar. É o que gosto e é o que me faz feliz.
[JMP] Por ter aceitado a homossexualidade da sua filha, a atriz Thammy Gretchen, que já está sendo tratada pela mídia como Thammy Miranda, você é considerada uma mãe modelo no meio gay. Você é engajada no movimento GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros)?
Engajada mesmo não sou, porque não posso estar pleiteando muitas coisas, dedicando meu tempo para isso. Mas sou uma pessoa que procura dar aquilo que eles [homossexuais] mais precisam. Quando estou nas paradas gays, nas boates, procuro suprir, mesmo que rapidamente, essa falta de mãe, de carinho, de atenção que os homossexuais acabam tendo.
[JMP] Você ainda sente, por parte da mídia, o mesmo tratamento de 30 anos atrás?
Não, hoje sinto melhor. Muito mais respeito, muito mais vontade de conhecer a Gretchen verdadeira. Não só o ídolo, mas a pessoa.
[JMP] E tem algum nome que você aponta como sua sucessora na carreira musical?
Antigamente até pensava nisso. Hoje, vejo que não vai existir uma sucessora: Gretchen é Gretchen, virou um símbolo, virou um ícone, virou cult e agora está para sempre. Porque eu já engravidei, já engordei, já parei, já voltei, já fui para os Estados Unidos, já virei garçonete e nada muda. [risos]
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A pantufa coral da cantora, com penas: acessório "cult" (Foto: Priscila Dias)